sexta-feira, abril 18, 2014

há alguém morando em minha casa.

a casa para a qual planejei quadros, posicionei sofás, comprei mentalmente talheres, máquina de lavar e luminárias. mantêm a minha casa fechada, ao invés de usarem as cortinas as quais imaginei, leves e claras. não abrem a minha casa para que o sol possa entrar pela manhã, para renovar o ar viciado construído no sono. a minha casa não tem, em sua cozinha, as panelas de minhas avós, as taças que me lembram meu amigo, a estrela para se fazer o tutu de feijão - muito menos estão lá as colheres de pau para receitas doces e receitas salgadas. nos quartos de minha casa, não existem os meus livros, não consta a lousa branca de prazos, não há sequer o meu tapete macio o qual nunca comprei. em minha casa, não há, na entrada, o meu capacho com estampa de azulejos portugueses e nem meu porta-chaves com o rótulo de maizena [como lidar com essa vontade de se olhar elementos tão irresistivelmente grotescos?]. o banheiro de minha casa está sem os tapetes comprados por meu pai. no corredor de minha casa, não há o espelho com medidas generosas, nem sequer as lâmpadas de galeria sobre ele. não existem, em minha casa, vasos de temperos frescos ou o meu bonsai. nas inexistentes prateleiras brancas, não estão as fotos de meus cachorros.

 há alguém morando em minha casa. não moro em minha casa há sete anos.

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